Griô aprendiz é um lugar social de mediação e diálogo entre as comunidades tradicionais de transmissão oral e os espaços formais da educação. Eles buscam uma formação pedagógica, artística e uma iniciação nas tradições. A pedagogia Griô é uma contribuição que vem sendo sistematizada há 15 anos em Lençóis.
A iniciação na pedagogia griô que aconteceu de quinta a domingo no Grãos de Luz e Griô envolveu 15 griôs aprendizes e educadores griôs, estudantes, professores, profissionais mestrandos e doutorandos de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, Alfenas e Belo Horizonte MG, e Santiago do Chile. A facilitação do curso foi realizada por Líllian Pacheco e Márcio Caires, criadores da pedagogia griô, e Nadia Acauan e Cacique Ramon, educadores e lideranças Tupinambás. Durante o curso, os participantes conheceram vivências e práticas da pedagogia griô, como a trilha griô do quilombo, rituais de vínculo e aprendizagem, rituais de iniciação, encontros dialógicos e estudaram conceitos e modelos de ação pedagógica. O encontro foi produzido por Roseane Bernardo e Marilane Freitas, jovem gestoras do Grãos de Luz e Griô, que estão nas oficinas do grãos deste os 7 anos e atualmente fazem parte da gestão do projeto. Elas são apoiadas pelo Grãos para formação em pedagogia na faculdade e em produção cultural. Segue o depoimento de uma das participantes do curso Marta Peres, Professora da UFRJ (Departamento de Arte Corporal, Escola de Educação Física e Desportos); Doutora em Sociologia (Universidade de Brasília) com Pós-Doutorado em Antropologia (IFCS/UFRJ); Mestre em Ciências da Saúde (UnB); Formada em Dança pela Escola Angel Viana, em Dança terapia (María Fux). Fisioterapeuta (IBMR); atualmente, no Pós-Doutorado no Núcleo Diversitas (USP).
“Foi uma experiência indescritível, tem muita gente na USP e na UFRJ interessada neste curso. Volto de Lençóis transformada. E é muito difícil colocar em palavras, pois na verdade tudo o que vivemos é muito simples. Ser recebido, acolhido, com música, dança, numa casa por onde passam muitas pessoas, crianças, jovens, adultos, em busca de experiências que dificilmente teremos acesso numa escola formal. Um dia inteiro num quilombo, conversando com os “mais velhos”, aprendendo com eles suas técnicas milenares de plantar milho, fazer farinha, xarope, rede de pesca. Sentir que eles se empoderam nesta relação, neste encontro, em que pessoas vem de longe, da cidade grande, para aprender com eles, e que o que eles fazem tem muito valor. Conhecer as crianças da escola e participar de uma contação de histórias com o Velho Griô. Um pouco de teoria. Ler texto e discutir os fundamentos da Pedagogia Griô, mas sem deixar de lado o encontro, a vivência, o corpo-que-dança que nos conecta inteiros, ancestralidade e identidade. E, finalmente, a iniciação. Início de um novo processo que não tem fim. Desta parte, deixa o mistério.. encontrar o cacique Ramon e Nadia foi um encontro para toda a vida”