O Contexto de Lençóis

A população garimpeira que envelhecia na bateia* e tinha seu universo no garimpo, com a proibição dessa atividade, viu o seu mundo desabar – Araujo, 2002

Gamela de madeira para lavagem manual de areias auríferas ou de cascalho diamantífero. – Ximenes, 2000

O passado é uma referência constante; o presente, uma lamentação profundamente impregnada do sentido da perda; e o futuro, algo fugidio, ausente como projeto. Este saudosismo projeta-se em todas as direções da Cultura… – Senna, 1998, p. 43

Caminhada do Velho Griô, casa da comunidade de Licurioba, Lençóis 1999/2000

A cidade de Lençóis está situada a 410 km de Salvador (BA), com uma população de aproximadamente 10 mil habitantes, em sua maioria afrodescendentes, onde 49,8% vive abaixo da linha da pobreza (renda per capta familiar menor que 1/2 salário mínimo, IBGE 2000), principalmente nas comunidades rurais, isoladas geograficamente.

Lençóis fica localizada na região do Parque Nacional da Chapada Diamantina, uma das maiores reservas ambientais do Brasil. Tombada como Patrimônio Histórico Nacional desde 1974, a cidade teve como base econômica até 1990 a extração de diamante. Segundo Senna (1998, p.45), a sociedade das lavras se formou por brasileiros vindos principalmente da zona do Recôncavo Baiano e de Grão Mogol, hoje cidade de Diamantina, Minas Gerais.

A escassez do diamante deflagrou uma crise econômica e social que se intensificou com o fechamento legal da atividade do garimpo.

Os investimentos econômicos foram direcionados para grandes e médios empreendimentos turísticos, com roteiros de ecoturismo que não incluem a história e a cultura do povo.

A transformação econômica vivida em Lençóis retirou o personagem central da atividade do garimpo (o garimpeiro) e o trabalhador rural, com toda a cultura que a sociedade produzia e reproduzia no seu cotidiano: as rendeiras e seu artesanato, os rituais das mães e pais-de-santo, as(os) reiseiras(os), o samba-de-roda, as cantigas das lavadeiras, as rezadeiras e curadores(as), as parteiras e outros personagens representantes da sabedoria da tradição oral.

Foi neste contexto que as escolas e as comunidades demandaram projetos que costurassem o fio da história de Lençóis. Porém a dissociação cultural entre escolas e suas comunidades, entre as gerações de tradição oral e as novas gerações de tradição escrita, forma uma célula de uma questão nacional. Há uma carência de práticas integradoras de ensino e aprendizagem nas universidades e nas escolas que incluam a vivência afetiva e cultural das crianças, adolescentes e jovens brasileiros. Práticas que os vinculam a si mesmos e a sua ancestralidade, para que sejam protagonistas de uma história e de uma educação que garantam o fortalecimento de sua identidade para melhoria da qualidade de vida.